Arca Tumular
A arca tumular que atualmente se conserva na capela de Nossa Senhora da Piedade, anexa à Igreja Paroquial de Mouçós, nada tem de românico. Ao invés, ela é o produto de uma encomenda de finais do século XV, promovida por Fernão de Brito Colaço, abade de Mouçós, que aqui escolheu sepultar-se.
Quer a capela funerária, quer o túmulo, que têm origem em 1483, data constante de uma epígrafe, atualmente colocada na parede, e onde se refere ter o abade mandado construir a sua sepultura e o pequeno templo que a abriga. Este, é um pequeno espaço quadrangular, arquitectonicamente e artisticamente muito modesto, escassamente iluminado, composto por grandes massas pétreas e com o telhado assente sobre uma cornija de modilhões a lembrar o românico. Na sua essência, corresponde àquele gótico vila-realense, maciço, em muito aspetos continuador do primeiro estilo da nacionalidade, e só longinquamente aparentado com as melhores construções góticas do país. Esta sensação é apenas atenuada, no exterior, pela existência de um nicho (a coroar a empena da parede nascente), que abriga uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, contemporânea da construção da capela.
O túmulo, pelo contrário, é uma obra perfeitamente enquadrada no vocabulário tardo-gótico, como se comprova pela existência de edículas de arcos canaviais abatidos, nas faces laterais dos sarcófago, onde se representaram os 12 Apóstolos. A própria decoração da testeira e do facial dos pés é de uma espiritualidade indubitavelmente gótica, sobressaindo a imagem da Virgem a lamentar a morte de Cristo, tema que nunca poderia aparecer no Românico. Aos pés, São Miguel pesa as almas, lembrando aos crentes que o seu destino será julgado pelo que tiverem feito em vida. O jacente apresenta uma composição característica das arcas tumulares da Baixa Idade Média, com defunto ladeado por dois anjos e cabeça assente numa almofada, e um cão protetor aos seus pés. Veste um gorro e uma loba, “típica do século XV” (SERENA e TEIXEIRA, 1994, DGEMN on-line), e segura, nas mãos, um breviário e um bordão. A toda a roda da tampa, uma legenda epigrafia identifica o monumento: “AQUI IAS FERNI DE BRITO COLAÇO E PARE(N)TE DO S(E)NHOR DO(M) PEDRO DE MEN(E)SES CONDE (DE) VILA REAL E SENHOR DE ALMEIDA”, letreiro que ajuda a compreender o estatuto sósio-económico de Fernão de Brito Colaço, no contexto regional. A arca é suportada por oito leões, sendo o espaço entre eles ocupado por silhares rectangulares decorados com o emblema abacial: “ um baú de tampa arciforme, cintado e com larga fechadura, saindo dele um ramo de cada lado, com folhas e frutos, enlaçando-se e cercando o baú” (SERENO E TEIXEIRA, 1994, DGEMN online).